Em 19 de agosto de 1989, muito contrariado o jovem menino Evander de Almeida conheceu a capoeira, por determinação de seu pai que impôs que ele deveria praticar esporte. Evander queria mesmo era fazer Karatê, mas depois de um mês treinando se encantou com a Capoeira e não parou mais. Hoje Evander é conhecido no mundo da Capoeira como Mestre Cavalo. Na entrevista exclusiva para o Blog Capoeira é para todos, o mestre nos contou um pouquinho da sua trajetória na capoeira.
(Mônica Marinho – Kika) Como foi o primeiro contato do senhor com a Capoeira?
Mestre Cavalo – Meu pai tinha um amigo que os filhos faziam capoeira e me disse que eu iria treinar com os meninos. Não queria fazer capoeira, queria mesmo era fazer Karatê, mas meu pai não me dava escolha ou vai ou vai (rsrs) ai não tive escolha tive que ir para a capoeira. Depois de um mês treinando com o professor Monteiro, conheci um Mestre de capoeira que foi visitar a academia onde eu treinava. No momento em que o Mestre Miguel entrou na academia eu tive a certeza do que eu queria ser: Mestre de Capoeira. Aquilo me encantou, não o jogo do mestre, mas sim a sua presença marcante, o respeito que todos os presentes demonstravam ter por ele, a postura do mestre me chamou muito a atenção parecia que tinha chegado o Presidente da República na academia.
(Mônica Marinho – Kika) Quais são os mestres que o senhor mais admira?
Mestre Cavalo – Os mestres que mais admiro são os que eu conheço mais a fundo, os que convivi mais. Admiro-os com as qualidades e com os defeitos também. Em primeiro lugar esta o meu mestre Kapa, foi ele quem me direcionou no mundo da capoeira. Outro mestre que admiro muito é o Grande Mestre Jogo de Dentro, admiro muito pela humildade que ele tem. Mesmo sendo um mestre renomado que já percorreu o mundo depois de uma roda não se incomoda de sentar na calçada e tomar refrigerante com os alunos, exemplo de humildade. Outros dois mestres que admiro pelo empreendedorismo que tiveram na capoeira são os Mestres Camisa e Suassuna. É muito importante você admirar quem conseguiu atingir o sucesso de maneira correta, sem passar por cima de ninguém.
(Mônica Marinho – Kika) Quantos anos o senhor tem de capoeira e quais foram os momentos mais marcantes que já viveu na capoeira?
Mestre Cavalo – Tenho 22 anos de capoeira. Vivi alguns momentos bem especiais na capoeira e que guardo comigo para sempre. Quando peguei minha primeira corda, quando me formei em Mestre e um momento que mais me marcou foi quando formei meus três contramestres. Não foi um momento diretamente comigo, mas eu senti que estava entregando alguma coisa de bom para o mundo. Neste momento passou um filme na minha cabeça, desde o momento em que esses meninos começaram a treinar capoeira. Existe uma fase na capoeira em que o prazer ta no que você faz, quando você joga, quando você derruba, quando você canta ou toca mas tem uma hora em que você se realiza pelos outros. Eu estou nesse momento da capoeira. Hoje eu me alegro vendo meus alunos na roda!
(Mônica Marinho – Kika) Como o senhor vê a Capoeira hoje?
Mestre Cavalo - Em minha opinião a capoeira progrediu muito em alguns aspectos, ela esta mais bonita, mais técnica, mas perdeu alguns valores. Hoje o capoeirista faz movimentos que há 30 anos não se imaginava, hoje o capoeirista tem uma postura de atleta de capoeira, além disso, na capoeira hoje existem muitos preconceitos. Se um capoeirista não usa uma calça justinha, um abada moderno, se não jogar na cadeira ele é saroba. Hoje os valores de graduação se perderam, os menos graduados não respeitam mais os graduados. A capoeira vem perdendo a sua essência de jogo, hoje se luta bem, floreia-se bem, mas a capoeira é um jogo, você pode ganhar perder ou empatar e muitos mestres só preparam seus alunos para ganhar e quando isso não acontece o aluno se frustra.
(Mônica Marinho – Kika) O que o senhor acha da postura desse tipo de mestre?
Mestre Cavalo- Acho que é uma postura de autoafirmação. Quando eu comecei na capoeira, você tomava uma banda, caia e queria descontar a queda, mas para isso se criava uma estratégia de jogo. Hoje, você vê uma roda de capoeira em que os capoeiristas jogam por uma hora e ninguém banda, isso porque se acontecer a queda o capoeirista já levanta de punho fechado querendo dar porrada.
(Mônica Marinho – Kika) Existe alguma coisa que todo capoeirista deveria saber?
Mestre cavalo - Acho que todo capoeirista deveria saber é que a Capoeira não tem prazo de validade! Você não faz capoeira para ganhar uma corda, para ganhar um campeonato, você faz capoeira para toda a vida. Cordas, títulos, vitórias são consequências que a capoeira pode te dar.
(Mônica Marinho – Kika) Mestre, como surgiu o Grupo GICAP?
Mestre cavalo – O grupo surgiu em um momento em que eu tive algumas divergências com outros núcleos do meu antigo grupo com o meu mestre Kapa. Para não deixar o mestre em uma saia justa preferi me afastar, cheguei a treinar em algumas associações mas não me identifiquei e largar a capoeira não era meu objetivo então resolvi criar o Grupo Independente de Capoeira o GICAP. Isso aconteceu em novembro de 2001 e hoje o GICAP já esta com 10 anos.
(Mônica Marinho – Kika) E como esta o grupo hoje após 10 anos de fundação?
Mestre cavalo- O GICAP hoje tem em média 300 afiliados entre crianças e adultos. Isso sem contar com os diversos projetos que o grupo esta inserido nas cidades em que está presente como Araruama, Maricá, Iguaba Grande, Saquarema, Rio das Ostras, Ribeirão Preto (SP), Espanha e Portugal. No momento não estou mais aceitando filiações, para os que querem fazer parte do grupo precisam se filiar através dos contramestres, professores e alunos graduados. Tomei essa decisão porque não quero ser um Mestre de um nome na camiseta. Acho que para ser Mestre, você tem que ter contato, saber o nome dos seus alunos, como é a estrutura familiar de cada um, saber onde mora e como vive. Hoje tenho 13 graduados que preciso dar assistência. Não adianta filiar um monte de capoeiristas e não dar assistência. Acho que o Mestre tem que intervir na vida do aluno. Ser mestre é você com a capoeira fazer o outro ser humano ser tornar um a pessoa melhor, fisicamente, moralmente, socialmente. Não é só formar um lutador. Trocar corda por dinheiro e estampar nome na camisa não é ser mestre para mim.
(Mônica Marinho – Kika) Mestre, qual conselho o senhor daria para quem quer começar a praticar a capoeira?
Mestre cavalo- Que o aluno entre, experimente, observe e reflita. Sabemos que o que movimenta a capoeira é o fluxo de alunos, o entra e sai de pessoas, mas o ideal seria que o mestre pudesse pedir para seus alunos que refletissem sobre o que realmente querem coma capoeira, o que ela vai representar em suas vidas. É preciso saber que a capoeira não é mais uma aula de spinning ou de step ela é muito mais que isso, muito mais!
(Mônica Marinho – Kika) O que é a capoeira para o senhor?
Mestre cavalo- Para mim é a segunda coisa mais importante na minha vida. A primeira é a minha família com certeza. Às vezes as pessoas vendem uma demagogia de que a capoeira é a coisa mais importante de suas vidas mais e se seu filho estiver doente, internado em um hospital? Você vai para uma roda de capoeira assim mesmo? Claro que não! Mas tenho a consciência de que a capoeira foi muito importante para o meu discernimento, fui órfão muito cedo e ela me ajudou muito nessa fase de minha vida, tenho a certeza disso porque tenho vários amigos que não tiveram a mesma sorte que eu. Hoje tenho uma família, tenho amigos e sou reconhecido pela sociedade como um homem de bem e isso é muito bom!